Memórias de Verão I
Foi numa noite de final de junho, ainda vinha até mim o murmúrio das conversas nas esplanadas misturando-se
com o estrugir das marés ao fundo, a maresia e o perfume dos cafés produziam uma estranha excitação o reencontro da melancolia estival. Estava cansado resolvi ir dormir.
com o estrugir das marés ao fundo, a maresia e o perfume dos cafés produziam uma estranha excitação o reencontro da melancolia estival. Estava cansado resolvi ir dormir.
Porque depois suceder-se-ia o passeio nocturno na marginal, de um lado, os automóveis ruminando de mansinho, os namorados de mãos dadas com promessas vagas, as famílias a lamberem colectivamente gelados de cone de baunilha e chocolate e conversas desinteressantes e despreocupadas, do outro lado, a brisa marítima e a areia molhada, haveria matizes de azul conforme havia lua ou era varrido o mar pelo farol, nos olhares sorriam romances de espuma e em silêncio engendravam-se projectos de tudo ou nada com filas de barracas brancas vazias.
Nessa altura acordei estremunhado, com o ruído dos bombeiros a entrarem pela janela, tinha-me esquecido da porta fechada com a chave por dentro como nos sonhos, junto à minha cama, ouvi uma voz feminina surpreendida de anjo com capacete que comentava:
"- Mas o seu filho já é tão grande!"
Lisboa, 13 de junho de 2016
Carlos Vieira
Carlos Vieira
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