quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Sinfonia da insónia


Sentavas-te
ao meu lado
eu sentia
a brisa que afiava
as arestas
do teu silêncio
as palavras
parcimoniosas
desciam devagar
para o lençol
sopesadas
como bichos
maliciosos
ou batiam contra
a face da tristeza
golpeando-a
e desafiavam
janelas de música
sobre mares interiores
de par em par
desvairadas
na curva côncava
do teu olhar
deambulavam
pássaros
vislumbrava-se já
estâmpidos de cor
finais de festas
em êxtase
no recôndito
das noites
anunciava-se
um início
de uma guerra santa
e a chegada da viagem
o vício estenuante
da tua pele
a enclausurar
girândolas de luz
segregando
o sabor austral
e extraordinário
do teu corpo
a entregar-se
derrubando
as últimas muralha
do quarto
do nosso longo exílio
as armadilhas
de preencher o vazio
ferindo a melancolia
estremecendo
a estralejar de prazer
no vértice do futuro
de um novo dia
que irrompe
até se abater
sobre nós
um sono
de uma leveza
inevitável
em equilibrio
instável
com o peso
do perdão
e a grandeza
do esquecimento.
Lisbo, 7 de Junho de 2016
Carlos Vieira


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