domingo, 21 de agosto de 2016

Inexplicável morte violenta


Ainda se sentou
na escada
que dava acesso
à varanda
do primeiro andar
por ali ficou
a mão esquerda
perdida do corrimão
e da tinta lascada
por tanta intempérie
que queimara
a madeira de pinho
nas pétalas de sangue
no coração a adivinhar
os borbotões no peito
esteve pouco tempo
sozinho
antes que a morte
o acompanhasse
pera além
do horror do vizinho
e contudo
uma eternidade
esculpida no rosto
por instantes
ainda regressou
ao espanto e ao tiro
á queima roupa
a tinir-lhe nos ouvidos
e a pólvora nas narinas
e um silêncio húmido
e o tal caleidoscópio
a toda volta
se o investigador
agora se debatia
com descortinar
do móbil do crime
então que dizer
dele próprio
sua vítima
e os mortos
não falam.
Lisboa, 2 de Maio de 2016
Carlos Vieira

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