de folha caduca ou perene
qualquer que seja
na superfície da sua pele
pode ler-se e ouvir-se sempre histórias
de assombrações e fotossíntese
nos intrincados deltas
das nervuras
na subtileza dos filamentos
de penugem
iluminados pela alegria tranquila
dos subterfúgios de clorofila
delimitadas
pelo desastrado recorte
ou delicada renda
que os crepúsculos
desenham
a borboletear ao sabor da brisa
enquanto se insinua
um perfume
onde se amansa ou se precipita
a irracionalidade de todos os animais
ecoa a sinfonia
que irá antecipar o rumor dos pássaros
e deflagrar seu canto emboscado
na solidão das copas
e no desespero dos troncos
que se contorcem
conforme é perene ou caduca
a folha de árvore
em que se vive
pega-lhe pelo pecíolo
como quem ergue um poema
e na sua leveza
olha-a em êxtase
na contraluz
rendido
confessa-lhe
os últimos versos
os últimos versos
Lisboa, 11 de Novembro de 2014
Carlos Vieira
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