Entre mim e a rua
há duas ou três flores interiores
com quem nunca troquei palavra
uma delas é artificial
sem alma
e está sempre nua
descobri há pouco tempo
não lhe sei o nome
de qualquer forma
este é muito redutor
na lateral da grande janela
da sala
no exterior
como se fossem escorraçadas
mais algumas flores
a minha ousadia é lançar
o fio do olhar
que atravessa a rua
e do outro lado
outros jardins interiores
a mesma indiferença
e anonimato
a aranha furtiva
tece por dentro de mim
um poema de noite e de sol
onde alguém tropece.
Lisboa, 23 de Novembro de 2014
Carlos Vieira
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