sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Poema para um avistamento


I
Rio-se
sozinho
o louco
desta ponte
a passar
por cima
do destino.
II
Observam-lhe
uma última vez
o seu corpo nu
a boiar no leito
do rio
por debaixo
do tabuleiro
rio-se
finalmente
nu
é agora
negligente
perante
a inutilidade
do dinheiro
do mundo.
III
Haverá
melhor morte
que o tumulto
da corrente
ou um túmulo
de água doce
sem esquecer
as borbulhas de ar
essa magnífica
metáfora
das últimas
palavras
o seu peso
líquido
o seu final
fluvial.
IV
Claro
há um pormenor
que é raro
contar-se
nos afogamentos
água fria
falta de ar
e a dor insuportável
da ferida
causada
pelas arestas
das lágrimas
nos que ficam
eternamente
por sarar.
III
Ali estás
por cima
da ponte suspensa
da vida
a avaliar
a sua profundidade
ausente
observando
a tua chegada
de guindaste
a bailar
à superfície
a debater-se
contra a corrente.
Lisboa, 9 de Abril de 2016
Carlos Vieira

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