domingo, 26 de outubro de 2014

Sem palavras



Há dias e dias
em que não há palavras
ao nomeá-las
elas não nos respondem
nem escutamos o eco
dos seus passos
que se afastam do vazio
em que habitamos.

Os pensamentos
são pardais de telhado
ariscos
desconfiados
nenhum pensamento
te vêm comer à mão.

Desvanece-se
esboroa-se
aquilo que designamos
por realidade
que muito dolorosamente
tínhamos construído.

Os objetos
tornam-se indefinidos
estranhos
fogem-nos das mãos
desajeitadas.

As pessoas e os animais
evitam-nos
mudam de passeio
com um sorriso
nos lábios.

O nada
é uma ave
que nidifica
fora de época
na nossa cabeça.

Parece-me entender
que existe aqui
uma certa dificuldade
de confronto
connosco mesmo.

Um cuidado atávico
na contaminação
a tendência do caminho
seguro e único
já trilhado
e com provas dadas
perante esta pandemia
de solidão.

Lisboa, 26 de Outubro de 2014
Carlos Vieira



Rene Magritte

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