segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Interlúdio com uma sereia


Sinto 

o desafio da presença 

do seu olhar

cristalino o fio

do seu canto em surdina

a incendiar

os lugares mais inacessíveis

da carne.



Teu olhar redondo 

concha esquecida

como um lago 

onde sonhava refrescar

os meus pés 

de onde se erguem as colunas

de alabastro

das tuas pernas

para adornarem

uma tarde de um Verão.




Mergulho

espero por ti

volto à superfície

sereia

que desapareces

do meu mundo

num pestanejar.



E agora

batem em mim

as vagas da ausência

e fica-me a corroer

o peito 

o teu coração de sal 

procuro-te

pelo periscópio 

e somente encontro

um crepúsculo de frio.



Desvaneces-te

no submarino silêncio 

volto à condição

de náufrago

que foi morrer na praia

de uma amor

que existiu apenas

naquelas subtilezas do olhar 

que se cruza agora

com o teu lugar do vazio

preenchido por o eco 

de um canto

que no acaso coincidiu

com a tua sede.



Lisboa, 13 de Outubro de 2014


Carlos Vieira

Sem comentários:

Enviar um comentário