Sinto
o desafio da presença
do seu olhar
cristalino o fio
do seu canto em surdina
a incendiar
os lugares mais inacessíveis
da carne.
Teu olhar redondo
concha esquecida
como um lago
onde sonhava refrescar
os meus pés
de onde se erguem as colunas
de alabastro
das tuas pernas
para adornarem
uma tarde de um Verão.
Mergulho
espero por ti
volto à superfície
sereia
que desapareces
do meu mundo
num pestanejar.
E agora
batem em mim
as vagas da ausência
e fica-me a corroer
o peito
o teu coração de sal
procuro-te
pelo periscópio
e somente encontro
um crepúsculo de frio.
Desvaneces-te
no submarino silêncio
volto à condição
de náufrago
que foi morrer na praia
de uma amor
que existiu apenas
naquelas subtilezas do olhar
que se cruza agora
com o teu lugar do vazio
preenchido por o eco
de um canto
que no acaso coincidiu
com a tua sede.
Lisboa, 13 de Outubro de 2014
Carlos Vieira
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