segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Murmúrios, sombras e outros solstícios



Um prolongado silêncio aflito
na véspera de água
um grito

O lume brando perpendicular
ao voo da pedra
e do pardal

Os reflexos de um peixe-gato
são um piano de luz
e de espinhas

Naquele lugar inóspito a língua morta
no ventre do tempo
é apenas erva

Exausto percorre o país exangue
impunha a lâmina curva
e a triste lâmpada

O  instinto de sobrevivência
leva ao beco sem saída
o animal ferido

Lançados ao mar os restos mortais
só o secreto rumor da seiva
coincide no lamento

Uma vez a partir do suave declive
soltou-se um fruto seco
e o gesto subtil  

A história do esplendor das manhãs
feita de  fogo e flor de sal
e estampidos

A laranja que de manhã era de prata
o sol que lhe sorri nos lábios
após a palavra amarga

Uma porta que se abre arrastando-se
teu nome na minha boca
a quietude da maçã

Chega a noite com o mistério da tinta
teu perfume é sombra de vento
nos ombros nus.

Lisboa, 10 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira

                                             Lunar Eclipse / Winter Solstice por Barbara Kacice

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