domingo, 16 de dezembro de 2012

Escola Primária de Sandy Hook, Newtown



Chovia em Lisboa
e centenas de projécteis
fulminaram 27 vítimas inocentes
na escola primária de Sandy Hook
e nós caímos prostrados perante o horror
perante tão precoce conhecimento da morte
dos que ainda ensinavam
ou daqueles que ávidos aprendiam
a amar os mistérios da vida

dentro de cada um de nós cresce um monstro
vamos adquirindo armas e munições
e pontaria e licença para matar
nesta anónima Newtown da indiferença
de qualquer país
em que passeamos
o nosso desvelo na flor da vida
em que criamos os filhos que nos matam
e que nos morrem

neste moderno Far-west dos duelos
com os nossos próprios medos
aceitamos o jogo da violência
e germinam virtualmente
nos nossos corações e nas nossa mentes
mais jogos de estratégias,
de rifles e de pistolas
para nos defendermos da violência
e do olho por olho

vamos pois alimentando o monstro
enquanto construímos à nossa volta todos os castelos
e condomínios fechados
que nos distanciam do ruído esquelético da fome
e do pânico do roubo e das epidemias
aqui estamos
longe da vista
longe do coração

porém dentro de nós
concebemos o brutal
e o assassino
convivemos alegremente
com a loucura que nos invade
o paraíso artificial
numa manifestação cobarde
sem possibilidade de defesa
de nós próprios

a escola primária de Sandy Wook
é agora outro espelho onde observamos
a nossa morte
onde a respiração e as lágrimas
toldam agora a imagem
desta última tenebrosa aprendizagem
que nos entrou sem pedir licença
pela nossa casa a dentro.

Lisboa, 15 de Dezembro de 2012
Carlos Vieira



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