Percorreu a espiral
do seu torso
e perdeu-se
para sempre
nunca se saberá
quem foi.
Contorna o veludo
da sua pele
entre miragens
e alucinações
e deixou de saber
quem é.
À flor dos lábios
inventou um alfabeto
só para eles
nesse labirinto
de emoções
desconhecia-se
o porquê.
Entre dentes
o rumor
acutilante das palavras
que murmurou,
até quando?
Ficou cego
no arco tenso
das suas pernas
e não sabia morse
ficou para sempre
sequestrado,
entregue a si próprio.
A sua alegria
era a dele
o sol de inverno
era dele
as suas lágrimas
eram suas
correram desejadas
não se sabe,
por onde
nem para onde.
O sexo sobrevoava
o tempo lento do corpo
era um relógio de água
que dava corda ao pensamento
à raiz do fogo
às crinas do vento,
ninguém sabia
o que faziam ali?
Pediam as suas ancas
o rumo estreito
das suas mãos
acalmando as correntes
os espasmos da pélvis
fechavam-se seus olhos
tudo tinha acabado
havia tempo
nenhum dos dois sabia
os termos do armistício.
Lisboa, 16 de Novembro de 2012
Carlos
Vieira
Foto: 14 de Agosto de 1945: Um marinheiro americano beija uma
enfermeira para celebrar o fim da II Guerra Mundial. A enfermeira, Edith Shain,
morreu em 23 de Junho de 2010, com 91 anos.
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