sábado, 10 de novembro de 2012

Líquenes, exercícios de vida mínima



 
 

Líquen

sussurro subtil

caligrafia de seiva

sobre a pedra inacessível

flor de um fogo breve

aroma de ave ávida de sonhos

 

líquen

voz que se ergue de erva-doce

sob as asas da neve

que irrompe na noite

das entranhas da terra

pelas frestas do tempo

cujo focinho empurra o sol tímido

pela madrugada

 

líquen

planta onde se acende

o reflexo rumor

de precários insectos

que viajaram

nos caprichos de vento

e que devoram agora

a última esperança

de uma vida vegetal

 

Lisboa, 10 de Novembro de 2012

Carlos Vieira

 
                                                 “Liquen” Myriam Le Borgne

 

 

 

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário