segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Os cotovelos...


 

Os cotovelos

em v suportavam-lhe

o rosto

 

os olhos embargados

de azul

e a escotilha embaciada

do plâncton

anunciavam a tempestade

da vida

 

desce a bruma

pelos seus cabelos

em desalinho

no teu olhar aceso

o ricochete

da carícia dos meus dedos

 

assustada refugiavas-te

num silêncio

ao fundo do túnel

 

trazes de volta

à paisagem

o guizo da alegria

de um pensamento solto

único

 

tu és feita

da fibra e do arco

de antes quebrar

que torcer

 

ouço siderado de espanto

a grande orquestra dos materiais

o siroco que assobiava

e tu nua

no princípio da noite

e tu nua

no zinco das varandas

e tu nua

nas madeiras de mogno que gemiam

quebrando o verniz

tremes de emoção e de frio

 

nas esporas

de um bárbaro desejo

em apoteose

o rubi dos teus lábios

demoravas o cerco

das tuas ancas de orquídea

 

o teu corpo alucinante

desmaiado

estandarte azul

sobre o dorso de um cavalo

a galope.

 

Lisboa, 4 de Novembro de 2012

Carlos Vieira

 


“                                                 Rapariga em cavalo” por YOCO

 

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