Os cotovelos
em v suportavam-lhe
o rosto
os olhos embargados
de azul
e a escotilha embaciada
do plâncton
anunciavam a tempestade
da vida
desce a bruma
pelos seus cabelos
em desalinho
no teu olhar aceso
o ricochete
da carícia dos meus dedos
assustada refugiavas-te
num silêncio
ao fundo do túnel
trazes de volta
à paisagem
o guizo da alegria
de um pensamento solto
único
tu és feita
da fibra e do arco
de antes quebrar
que torcer
ouço siderado de espanto
a grande orquestra dos materiais
o siroco que assobiava
e tu nua
no princípio da noite
e tu nua
no zinco das varandas
e tu nua
nas madeiras de mogno que gemiam
quebrando o verniz
tremes de emoção e de frio
nas esporas
de um bárbaro desejo
em apoteose
o rubi dos teus lábios
demoravas o cerco
das tuas ancas de orquídea
o teu corpo alucinante
desmaiado
estandarte azul
sobre o dorso de um cavalo
a galope.
Lisboa, 4 de Novembro de 2012
Carlos Vieira
“ Rapariga em cavalo” por YOCO
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