Um corpo nu e único admirável
amputado de todos os sonhos
e pétalas
e do desassossego das gaivotas.
Nele ainda resvala
o vórtice do canto
o seu perfume reconhecido
a incendiar
ainda a epiderme.
Respira-se a alusão
a um mar de tranquilidade
interrompida
por conchas de espanto
um corpo vencido pelo cansaço
por um sono
de areia e sal.
Na praia impressos
os pés descalços
da mulher recém atropelada
pelo real
pelas ondas que se enrolaram nas pernas
no sexo
de um refluxo apenas vegetal.
Mulher abandonada que o mar beija
em decúbito dorsal
e na rebentação
liberta
e enleia de algas
abusa da fragilidade
e a devolve à terra
.
Sempre este mesmo mar
que tão violenta
e profundamente
nos quer
e nos mata.
Lisboa, 15 de Novembro de 2012
Carlos Vieira
Imagem retirada da Internet de autor desconhecido
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