domingo, 11 de novembro de 2012

Delírios


 

 

A casa soergue-se agitada

em pânico abandona a rua

abandona-me na rua.

 

Eu desperto tardiamente

no meio do nada

e de dentro de um poço

olho para o céu que derrama

o seu vómito azul inconsequente.

 

As nuvens são animais ferozes

com dentes de chuva

um bando de gente volúvel

e de luzes trémulas

todos os animais enlouquecem

à sua volta.

 

Só confio neste lugar

de onde puxo a paisagem pela janela

com uma corda

fica um pouco apertada

nas minhas duas assoalhadas.

 

A corrente de ar faz bater

a porta da cozinha

no entanto sinto-me sufocar

perante a imobilidade do mundo

e o beco sem saída das ideias.

 

Todos os objectos me fogem das mãos

como os cães

que me roubam a comida.

 

Neste delírio tremens

assisto ao desabar

de tudo o que acreditava.

 

Ouço a campainha

afinal alguém me encontrou

neste manicómio

simulacro da eternidade

afinal sempre vão executar

a ação de despejo.

 

Lisboa, 11 de Novembro de 2012

Carlos Vieira

 
                                                           Jean-François Dupuis, “Delirium”

 

 

 

 

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