quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Poema para o último dia na Terra



Voltarei
áquele banco
que na minha terra
se chama mocho
perante a grande audiência
e último recurso
na penumbra da figueira
voltarei a confessar que errei.
Perante o fragor dos aromas
a púrpura dos figos
o olhar complacente dos avós
o estrépito dos pássaros
e as suas lâminas de penas
afiadas na luz de veludo
do murmúrio da tua voz
vou assumir humildemente
a minha culpa.
No dia que o mundo acabar
do grande julgamento
irei aos figos contigo
os pássaros e os insectos
e outros pequenos animais
na sua feliz ignorância
vão desconhecer
que não se despedem
apenas do Verão
para nós
tal
será apenas uma coincidência
um final feliz
a recorrência discreta
da tua revelação.

Lisboa, 28 de Agosto de 2014
Carlos Vieira



Pintura de autor desconhecido


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