Matsuo Bashô: "Não esqueças nunca/ o gosto solitário/ do
orvalho".
Orvalho
sementeira de reflexos
num país de ausências
e de viagens
que se desvanece
onde os arbustos
se empertigam
de intolerância
e estremecem as sombras
de memórias com punhais
num alarde de bichos
pelos atalhos
ao rural retorno
onde se mordia a poeira
e erravam reflexões graves e secas
e elementares
como este dia que nasce
com o sol a prumo
e que se volta sempre
ao princípio de todas as coisas
como os reclusos no pátio da prisão
que reconhecem
o rigor matemático dos objetos
e dos pensamentos
com juros
não se esquece
que nada por si só faz sentido
já lhe cansam
todos os átomos que conhece
os imperativos categóricos
o milagre económico
e a ignorância
de andar em busca
da retidão dos caminhos
a meias com o sucesso
de bom aluno
nação de regresso
a uma velha história
moveram-lhe
uma ação de despejo
agora somos um país de apátridas
onde sobram “duas lágrimas de orvalho”.
Lisboa, 15 de Setembro de 2013
Carlos Vieira
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