domingo, 15 de setembro de 2013

Um país à procura de si




Matsuo Bashô: "Não esqueças nunca/ o gosto solitário/ do orvalho".

  

Orvalho

sementeira de reflexos

num país de ausências

e de viagens

que se desvanece

onde os arbustos

se empertigam

de intolerância

e estremecem as sombras

de memórias com punhais

num alarde de bichos

pelos atalhos

ao rural retorno

onde se mordia a poeira

e erravam reflexões graves e secas

e elementares

como este dia que nasce

com o sol a prumo

e que se volta sempre

ao princípio de todas as coisas

como os reclusos no pátio da prisão

que reconhecem

o rigor matemático dos objetos

e dos pensamentos

com juros

não se esquece

que nada por si só faz sentido

já lhe cansam

todos os átomos que conhece

os imperativos categóricos

o milagre económico

e a ignorância

de andar em busca

da retidão dos caminhos

a meias com o sucesso

de bom aluno

nação de regresso

a uma velha história

moveram-lhe

uma ação de despejo

agora somos um país de apátridas

onde sobram “duas lágrimas de orvalho”.

 

Lisboa, 15 de Setembro de 2013

Carlos Vieira

 


                                                            Imagem de autor desconhecido

Sem comentários:

Enviar um comentário