I
Desperto
toda a vida que me resta
está ali por perto
oiço o restolhar
dos pequenos passos
das minhas três filhas
a sua dança e a festa
distante nos seus sonhos.
II
Reconheço
que é manhã
porque tu dormes meu amor
nos pequenos objetos domésticos
e ao mesmo tempo
sabes por dentro as distâncias
és tu que tornas suave
o ar e a luz da madrugada
no aroma e sabor das substâncias.
III
Espio o teu sono
Aguardo a absurda pantomina
do teu espreguiçar
pouso os pés
com cuidado
não te vá despertar
e quebrar todo o encanto
deste pequeno mundo
adormecido.
IV
Ando perdido
pela casa
oiço o sono solto
e o murmúrio dos livros
todas essas vozes
que me acompanham
para onde quer que eu vá
essa multidão
onde me escondo
por vezes por medo
e outras por vergonha.
V
Fecho os olhos
esqueço-me de tudo
e regresso ao caminho
da solidão
do desconhecido
de portas abertas de par em par
à casa do mundo
onde vos perdi
meus amigos
onde vos quero reencontrar
eis-me de novo aqui
perante vós
que renasci
podem entrar
o poema é a minha casa.
Lisboa, 8 de Setembro de 2013
Carlos Vieira
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