Voltei de novo
a essa visão vestibular
cor de pêssego
em que te desfrutei
articulando
a penugem e o perfume
do teu corpo
onde se acendia uma luz difusa
um sequioso
itinerário da saliva
no papiro da tua pele
de letra cuneiforme
eu era intérprete do crepúsculo
vencido pelo alabastro
dos teus ombros
depois repousava
no delta movediço dos teus seios
e deixava-me levar
na corrente do teu olhar
acossado e límpido
até voltarmos
a ser de novo rio e céu e mar
viajantes da bruma
doce sabor a orgasmo e sal
corpos seminus
debatendo-se em lençóis de espuma
tudo tão extraordinário
e tudo tão previsível
na ida e volta das cartas
e das ondas.
Lisboa, 19 de Setembro de 2013
Carlos Vieira
“Lendo uma carta na praia” de Dominique Amendola
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