A palavra Tuaregue significa “abandonados pelos deuses“
Martírio
do olhar que fulmina
espinho
cravado no horizonte
exílio
e campo de refugiados
e de extermínio.
As palavras
que a brisa varre
para debaixo
do tapete
da ausência
destilam veneno
pétalas
maceradas.
A noite
é a cimitarra
que corta a direito
não ficará cá ninguém
para contar
o êxodo.
O perfume exala
no deserto
a rosa impiedosa
das dunas
os pés sangram
forçados
peregrinos.
Vão se apagando ali
os rastos e a cólera
perante a fome
no catre
sem remédio.
Miragem sequiosa
do mel dos figos e leite
derramados
respiram o mundo
na epiderme das tendas
de um sono
em sobressalto.
Um puro sangue
vigia o mar de estrelas
o tuaregue
uma ampulheta
sem sentimento
a sua esfinge
é lâmina
de pura solidão
onde resiste
recortando o tempo
de uma tristeza
azul turquesa.
Lisboa, 7 de Setembro de 2013
Carlos Vieira
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