sábado, 7 de setembro de 2013

Poema de apenas uma noite refugiado

A palavra Tuaregue significa “abandonados pelos deuses“



Martírio
do olhar que fulmina
espinho
cravado no horizonte
exílio
e campo de refugiados
e de extermínio.

As palavras
que a brisa varre
para debaixo
do tapete
da ausência
destilam veneno
pétalas
maceradas.

A noite
é a cimitarra
que corta a direito
não ficará cá ninguém
para contar
o êxodo.

O perfume exala
no deserto
a rosa impiedosa
das dunas
os pés sangram
forçados
peregrinos.

Vão se apagando ali
os rastos e a cólera
perante a fome
no catre
sem remédio.

Miragem sequiosa
do mel dos figos e leite
derramados
respiram o mundo
na epiderme das tendas
de um sono
em sobressalto.

Um puro sangue
vigia o mar de estrelas
o tuaregue
uma ampulheta
sem sentimento
a sua esfinge
é lâmina
de pura solidão
onde resiste
recortando o tempo
de uma tristeza
azul turquesa.

Lisboa, 7 de Setembro de 2013
Carlos Vieira





Sem comentários:

Enviar um comentário