Já era tarde
para te amar
onde estava o veludo
dos teus lábios
e a melodia
que moldava
no olhar perspicaz
o teu dorso desnudo?
Teus lábios
frutos agridoces
agora gretados
perspetiva de um murmúrio
esquisso de um estudo
em carne viva.
Teu corpo
soergue-se
num ínfimo instante
tudo no teu torso
era só
era apenas vertical
e deslumbrante.
Ali
no teu corpo
vislumbro ainda
nos secretos interstícios
da tua pele
um rumor
na alvorada
de um rio interior.
Reina
a luz dos teus seios
na penumbra mansa
dos salgueiros
maldigo ali
o avaro tecido
que escondia
a curva da tua anca.
Devo calar-me
perante a eloquência
dos teus seios?
devo conter-me
ou precipitar-me?
Tropeçava sempre
neste vazio
em lugares comuns.
Remetes-te ao silêncio
as tuas coxas
fecham-se
como se fossem
a concha do tempo
torna-se num mistério
sem ti
tudo é uma perda de tempo.
Sei porque se rendiam
os vales e os montes
reconheço
este perfume etéreo
que os sobrevoava
algures nos confins
das tuas coxas.
Toldam-se-me a palavras
derrubam-se as pontes
pressinto o teu corpo
irrequieto
sobre o musgo
e o colmo
onde se despiu a eternidade.
Lisboa, 5 de Setembro de 2013
Carlos Vieira
“Bodyscape labeled as Shin KneeValley created using nude bodies to project surreal landscapes”
By Carl Warner
Sem comentários:
Enviar um comentário