sábado, 7 de setembro de 2013

Amar em prognose póstuma




Já era tarde 
para te amar
onde estava o veludo 
dos teus lábios
e a melodia 
que moldava 
no olhar perspicaz 
o teu dorso desnudo?

Teus lábios
frutos agridoces
agora gretados
perspetiva de um murmúrio
esquisso de um estudo 
em carne viva.

Teu corpo
soergue-se 
num ínfimo instante
tudo no teu torso 
era só 
era apenas vertical
e deslumbrante.

Ali 
no teu corpo
vislumbro ainda 
nos secretos interstícios 
da tua pele 
um rumor 
na alvorada 
de um rio interior.

Reina 
a luz dos teus seios
na penumbra mansa 
dos salgueiros
maldigo ali 
o avaro tecido 
que escondia
a curva da tua anca.

Devo calar-me 
perante a eloquência 
dos teus seios?
devo conter-me
ou precipitar-me?
Tropeçava sempre 
neste vazio
em lugares comuns.

Remetes-te ao silêncio 
as tuas coxas 
fecham-se
como se fossem
a concha do tempo 
torna-se num mistério
sem ti 
tudo é uma perda de tempo.

Sei porque se rendiam 
os vales e os montes
reconheço 
este perfume etéreo 
que os sobrevoava
algures nos confins 
das tuas coxas.

Toldam-se-me a palavras 
derrubam-se as pontes 
pressinto o teu corpo 
irrequieto 
sobre o musgo
e o colmo
onde se despiu a eternidade.

Lisboa, 5 de Setembro de 2013
Carlos Vieira


“Bodyscape labeled as Shin KneeValley created using nude bodies to project surreal landscapes” 
By Carl Warner

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