sábado, 26 de maio de 2012

Soneto de um amor platónico, a morte nem por isso


fixo-te no verdete que contorna o prumo do silêncio

e abres os braços pela doce asfixia no fumo do tempo

da lâmina exacta de um olhar que ludibria pelo bailado

sei do teu regresso e desespero num abraço de afogado



escuto os teus passos a emergir nos degraus do lago

escorre fulgente pelos teus cabelos dos peixes a prata

uma estrela amadurece nos teus olhos o fruto do afago

gravas o teu caminho em fogo brando mulher ingrata



na linha do horizonte perscruto o teu gesto curvo de lua

e sob os teus ombros proclama-se a espuma das marés

no estuário dos astros o murmúrio de ondas vendo-te nua



depois existe o degelo das palavras que descem das montanhas

um guerrilheiro sai da gruta e encadeado na luz cai a teus pés

olhas o céu e contorcidas de raiva tuas mãos desvendam amanhãs



Lisboa, 26 de Maio de 2012

Carlos Vieira



                                                   Escultura de “Mulher Sonhando”




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