quinta-feira, 17 de maio de 2012

Devaneio de um anarquista




a festa era a todo comprimento do teu corpo nu

ente a vereda do feno e da sesta

um muro e o antigo trilho

por onde emerge a serpente lesta

um conto lânguido de futuro

era o alabastro do teu seio

um eco de leite

a foz

oiço ao longe

o pungente clarim

tornear o ombro da paz

onde descanso e encosto a arma

um apelo fugaz da alma

depois do estampido

uma revoada de pombas

levantando um véu de espanto

de liberdade

que coincide

com o cair da máscara

e do encanto

de ti mulher nua e despojada

serás sempre a notável persistência

das ondas na praia

és ainda o meu argumento

impossível de espuma

fulminante galáxia

de razão e de coragem

onde vou tateando

onde vou de viagem

pelo planalto

pela fragrância

do teu baixo ventre

e aí nessa trincheira

dos desprotegidos

defendo no compromisso

outra distância

outros tratados

de vencer a ganância

a incrível sedução dos nós

da madeira

dos dedos entrelaçados

na inegável  pertinência e audácia

de vencer  o medo da morte

a poesia do teu sangue tão azul nos mapas

onde inventámos os lugares dos abraços

depois acordávamos

de mãos dormentes

com o galope dos cavalos

de freio nos dentes

pelos prados

nas curvas de nível

numa insensatez de beijos

acreditávamos e sabíamos de tudo

seguíamos um rumo

de olhos fechados



Lisboa, 16 de Maio de 2012

Carlos Vieira



                                          Fernando Pessoa  “O Homem é do tamanho do seu sonho

Sem comentários:

Enviar um comentário