a festa era a todo comprimento do teu corpo nu
ente a vereda do feno e da sesta
um muro e o antigo trilho
por onde emerge a serpente lesta
um conto lânguido de futuro
era o alabastro do teu seio
um eco de leite
a foz
oiço ao longe
o pungente clarim
tornear o ombro da paz
onde descanso e encosto a arma
um apelo fugaz da alma
depois do estampido
uma revoada de pombas
levantando um véu de espanto
de liberdade
que coincide
com o cair da máscara
e do encanto
de ti mulher nua e despojada
serás sempre a notável persistência
das ondas na praia
és ainda o meu argumento
impossível de espuma
fulminante galáxia
de razão e de coragem
onde vou tateando
onde vou de viagem
pelo planalto
pela fragrância
do teu baixo ventre
e aí nessa trincheira
dos desprotegidos
defendo no compromisso
outra distância
outros tratados
de vencer a ganância
a incrível sedução dos nós
da madeira
dos dedos entrelaçados
na inegável pertinência
e audácia
a poesia do teu sangue tão azul nos mapas
onde inventámos os lugares dos abraços
depois acordávamos
de mãos dormentes
com o galope dos cavalos
de freio nos dentes
pelos prados
nas curvas de nível
numa insensatez de beijos
acreditávamos e sabíamos de tudo
seguíamos um rumo
de olhos fechados
Lisboa, 16 de Maio de 2012
Carlos Vieira
Fernando Pessoa “O
Homem é do tamanho do seu sonho”
Sem comentários:
Enviar um comentário