pressinto
nos meus lábios
o teu corpo a levitar
perde-se na boca
a frase inacabada
do espanto
nasces de novo para mim
após amansar o vento
és uma memória que me morde
oiço o animal
oiço cada partícula
em que eras porcelana
e a frescura do afago
atravessas o sabor
da longa espera
que é a queda do fruto
na frágil verdura da erva
na tua nudez imaculada
ali se oculta o apelo
se acende o perplexo aroma
incrédulo escorre o sumo
sobre a lâmina
num fulgor de silício
espeto até ao mais fundo
o gume do silêncio
até se soltar um grito
na alforria que te concedo
dentro de mim
dentro de nós
o desejo que adormece
é um punhal saciado
Lisboa, 12 de Maio de 2012
Carlos Vieira
“Fragmentos de Sandra Berube” por Patrick Rochon
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