sábado, 21 de junho de 2014

Homem matinal



Vai pelas bermas
das veredas
na vertical da clorofila
onde se insurgem
pássaros matutinos
às escondidas
sobem os caules caracóis 
canários
na sua lentidão e com gotas
de orvalho
da madrugada que descem 
em contramão 
tudo animado pelo assobio
da brisa
em arrepio e dança das canas
há pequenos 
animais depois do sono
que suscitam
tramas e redes efémeras
oscilações
cúmplices do agricultor
a caminho
dos frutos e de exortar a horta
que expostos
a perigos e pragas várias
desta chuva
fora do tempo e de si
vai inseguro
e já dormiu a sono solto
o homem 
que desce a vereda
interpelado
pela ternura das plantas
e dos bichos
embalado pelas colheitas.

Lisboa, 21 de Junho de 2014
Carlos Vieira

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