há um anúncio
de chuva
no céu de chumbo
nos espelhos
de água
de arroz
apetecia-lhe
agora
uma fatia
de melancia
arrasta
polígonos
ancestrais
de nós
com cordas
feitas
de elos e luas
de palavras
onde tange
a poesia
de fundo
o cheiro putrefacto
das celuloses
e estrias
de fumo
e uma melancolia azul
impaciente
de estrelas
ali
tirou
as galochas
para lavar
os pés
que viu
descalços
pela primeira vez
um comboio
eléctrico
suburbano
curto circuita
a paisagem
embalado
entre dois tons
de verde
e de verdade
podia ver-te
à janela
invocando
a renovada
serenidade
da tua pose
de perfil
ali ao lado
o frágil encanto
no mesmo tempo
dúctil
do pergaminho
que emana
perfume
subtil
e desejo
em branco
incandescente
de percorrer
esta distância
do amor
a tinta permanente
o escritor
fuma
o cachimbo
da paz
perplexo
interroga
a evolução
no matiz
da paisagem
e da luz
percebe
a sua ausência
e o teu desassossego
no timbre
dos pássaros
Lisboa, 7 de Junho de 2014
Carlos Vieira
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