quinta-feira, 5 de junho de 2014

Comércio da dor


Uma ambulância
esbaforida
e com os pirilampos acesos
sobe aos gritos 
pela rua acima

transportam 
uma dor calada
igualmente desesperada
os transeuntes 

a cidade 
está em convalescença
sofreu cirúrgica intervenção
ainda se encontra
aqui e ali esventrada
ligada à máquina

o país
esse prossegue 
a sua lenta agonia
anémico
abúlico
entre o tratamento
inconsequente
e os efeitos secundários
inconsolável
perante tanta urgência

a sua gente
sem sossego
a precisar de alento
entrega-se 
a essa generalizada
indiferença
a que chamam
morte lenta
destino
fado

eu assisto
a este melancólico
mercado dos sonhos
a preço controlado
à morte 
ao retardador
a este imenso circo
prestigidatação 
anestesia colectiva.


Lisboa, 4 de Junho de 2014
Carlos Vieira

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