Um rosto de espanto
incrédulo, sem pé,
perante o vazio.
A mão acesa
com uma granada
essa flor quase animada.
O corpo arrojado
desmembrado, uniforme
rasgado, em mais um dia D.
A praia é um jardim
de minas e arame farpado,
um perfume de sal e pólvora.
A areia juncada de corpos
a apanharem sol, inútil é o efeito protetor
do próprio sangue.
Os soldados chegam
nas barcaças de braços abertos
vão abraçar a morte.
Morre gente
aos milhares pela Democracia
nas praias do dia D e nos outros dias.
Por ti, por mim, por nós
morrem todos os dias na indiferença
parece que foi ontem.
Foi hoje, ontem, foi há muito tempo
e valeu a pena, quem esquece?
quem é que se lembra?
Para que serviu
o fogo de rajada, a baioneta em riste?
E agora calada, e agora calada!
E agora aqui estamos
mais um dia triste de ondas
de medos e de frio.
Mais uma noite
de desembarque na praia
de uma qualquer Normandia.
Lisboa, 6 Junho de 2014
Carlos Vieira
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