Promíscuo
tropecei hoje
nesta palavra
no saguão do
desalento
onde te
encontro
reviram-se as
minhas córneas de espanto
olho para o
mundo
que apodrece
dentro de nós
depois do
vómito nauseabundo
cresces flor
heróica
no momento
sujo
regas a
terra
espreito a pobre
semente
a desaguar na
imundice
o
desabrochar
contra a ausência
de alento
ouço a sua
voz líquida
e fico
ofuscado
na luz insaciável
do teu ventre
a ferrugem
corrói a noite
e o zinco
a humidade e
as aranhas
percorrem o
bairro social
no seu
esforço de coesão
a lua não é
precisa rigorosamente para nada
nem para as
ligações diretas
os filhos
dormem no mesmo quarto
único
uma suite
onde adormece
a vista do mar
oiço-lhe o choro
e acorrente
de ar
pode ser
apenas um arroto
podem ser gases
nem te passa
pela cabeça
que seja da fome
enquanto
dormem não comem
dos oito pontos
brancos
descortino
dois a um
canto acesos
pode ser o
gato
o gato não
conhece outra vida
olha com
desprezo
para os
homens perdidos
na noite
ali ao lado
passa o esgoto
e passas tu
que és da rua sem nome
do lote inacabado
da decadência
da alegria
noto a diferença
do branco dos
teus olhos
que saem pela
portinhola
antes do mur(r)o
de desespero
na gaiola do
desemprego
coabitas com
um canário amarelo
contente da
alpista
e desconhecedor
dos problemas
de
saneamento básico
no fundo não
é assim tão mau
podem dar
largas à imaginação
Lisboa, 4 de
Junho de 2012
Carlos
Vieira
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