Quase podia ouvir
os teus pequenos passos
estudados para o encontro
furtivos
por detrás das grandes rochas
do pensamento
antes da paixão
essa lâmina forjada na lua
perpendicular
o teu olhar libidinoso
a corroer-me por dentro
de um doce tormento
lembro-me depois de nós
de estarmos ali íntegros
nus e sós
sem mácula
os teus gritos
faziam parte da curva de água
no ruir das ondas
rastilho do esplendor
de todo o pecado
depois não ouvi mais nada
e fiquei cego
sei que não houve misericórdia
que algures aconteceu a nossa morte
e lembro-me de ter ressuscitado
ao teu lado
na coada madrugada
do céu riscado de uma barraca
no meu sonho não sei se dormias
profundamente
ou se tinhas partido
nunca mais deixei de te amar
nunca te poderia dizer
nunca te iria dizer
no medo de te perder
ao te acordar
Lisboa, 9 de Junho de 2012
Carlos Vieira
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