sábado, 30 de junho de 2012

a palavra desconhecida

 

a haste da palavra

curvava-se sobre um rio imaginário

numa paciência de cana de pesca

sobre o século

onde a corrente

de olhos semicerrados

prossegue exausta e indiferente

manuseando o seu realejo de água

onde aflora a memória em remoinho

da nudez dos corpos jovens

o reflexo dos peixes

e a fragrância de margens

a destoar

apenas a sombra ténue

do rouxinol que tinha sido devorado

pelo salgueiro

isso foi suficiente

para que a palavra se desprendesse

e flutuando levada pela corrente

precipitou-se no açude

sem dizer nada



Lisboa, 30 de Junho de 2012

Carlos Vieira


                                         “Words in the wind painting” por Ruben Monzon

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