quarta-feira, 13 de junho de 2012

natureza morta da insídia



são ínfimos os fragmentos

talvez sejam porcelana antiga

que não resiste à minúcia de um olhar

descortinando o ardil



o esvoaçar da cortina

permitiu o fulgir da louça frágil

e perceber a sede acesa do lugar

na perplexidade inocente da carne



oiço a brisa de um alaúde

e a penumbra do perfume já distante

de uma pérfida Cleópatra

o papiro respira a amável escrita



no perímetro do vinho derramado

adivinhavam-se partículas do veneno

nas arestas de suor e nas esquinas

espreita a náusea e o véu do poder



após os cálculos desfeitos em pó

que tinha pairado nas horas mortas

intuem-se as vozes ciciadas

em ciladas mínimas mas bastantes



rastejam nos relógios vigiados

veludos não anunciados e perversos

na miríade de vestígios de carícias

sofre a nudez breves golpes de luz



Lisboa, 13 de Junho de 2012

Carlos Vieira



“A negação de S. Pedro” de Caravaggio

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