são ínfimos os fragmentos
talvez sejam porcelana antiga
que não resiste à minúcia de um olhar
descortinando o ardil
o esvoaçar da cortina
permitiu o fulgir da louça frágil
e perceber a sede acesa do lugar
na perplexidade inocente da carne
oiço a brisa de um alaúde
e a penumbra do perfume já distante
de uma pérfida Cleópatra
o papiro respira a amável escrita
no perímetro do vinho derramado
adivinhavam-se partículas do veneno
nas arestas de suor e nas esquinas
espreita a náusea e o véu do poder
após os cálculos desfeitos em pó
que tinha pairado nas horas mortas
intuem-se as vozes ciciadas
em ciladas mínimas mas bastantes
rastejam nos relógios vigiados
veludos não anunciados e perversos
na miríade de vestígios de carícias
sofre a nudez breves golpes de luz
Lisboa, 13 de Junho de 2012
Carlos Vieira
“A negação de S. Pedro” de Caravaggio
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