terça-feira, 14 de agosto de 2012

reencontro



eu estou de pé

depois da urze dourada

o teu corpo macio

está de bruços

é uma romã inquieta

pendurada na penumbra

nós estamos nus

como os astros inacessíveis

e a beleza dos números

tu és a gazela desconfiada

imediatamente antes do prado

que não resiste à tentação

de poder regressar  

trazes a inesquecível ironia

do teu sorriso tangente

a esculpir

os teus lábios perfeitos

fulgindo no olhar

que já foi triste

o teu desejo ouço-o

arqueando as tuas vértebras

no frémito do vento

és neste odor que dança

e que libertas

que me prendes ao sul

dos teus abraços

gume de palavra

nunca esquecida

na minha boca ferida

desliza a enrolar-se

nos pensamentos

que me traem

e a que me entrego

que serão afinal

na foice do desespero

a tua linha de fuga





Lisboa, 14 de Agosto de 2012

Carlos Vieira


                                                          Pintura de Boris Malafosse

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