chove no jardim
em agosto
dentro de mim
solta-se
o teu véu de seda
de ave táctil
e incansável imaginação
tecida
em puro acaso
notável descoberta
seminua
eras tão fresca e frágil
fora de mim
brisa do murmúrio
de um tempo diáfano
por ti caíam as bátegas
leves lâminas
nas asas do desânimo
no fim da tarde
o veneno dos segredos
por revelar
para surpresa da água
reconheço-te imaculado
corpo que foste antes do pó
e de refletida mágoa
serás sempre
quando fores fora de mim
erguida estátua
onde já só irá correr
a memória de um amor
censurado
ali exatamente no coração
do lago
morto de sede e dos olhares
de pedra
assim permaneces
incólume e inexpugnável
meu bravo rio interior
do início da viagem
sem regresso
do medo até à luz
sobre a suave alegria corroída
da acidez do teu silêncio
e da chuva
áspera é a minha mão
que te percorre
o rosto
temperada pelo bálsamo
das tuas lágrimas
apenas saberás de mim
que é Agosto
e que chove de novo lá fora
no jardim
agora que és esta imagem
que ficou de ti
já sinto de novo
a passagem do tempo
Lisboa, 16 de Agosto de 2012
Carlos Vieira
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