A tua silhueta
se desvanece
te devolve
ao inferno
do nada
nas dunas
de olvido
te deserda
de ternura
e de visão.
Tu és a filha pródiga,
e ninguém
recebe de volta:
a mulher
que cega ficou
na tempestade
de areia,
nem a mulher perdida
que traz
o espelho
onde nos voltamos
a encontrar.
Te fulminam
te abandonam
não se condoem
sobra-lhe
no coração
a cimitarra
da guerrilha
e da ingratidão
perante
o teu desvelo
de figos
e de mel.
Nele
só há lugar
para o golpe
de misericórdia
está extinta
a chama do saber
e cerce o gume
das trevas
degolou
a rebelião
do amor.
Querem-te assim
pássaro triste
sede do deserto
lágrimas de bruma
e alma penada
na orla da floresta
depois vai aparecer
na pele do príncipe
que te quer salvar
depois que te quis
perder.
O singelo amparo
das tuas mãos
em concha
o acolhe,
teus olhos
de tâmara
ocultos
na vegetação
do oásis
o envolvem.
Tu eras a pérola triste
no vazio
do seu coração
no cárcere
do seu corpo
ali emboscados
reside a palavra
pedra
o sangue fresco
assassino
o gesto
e no véu
rasgado
floresces
o relâmpago
do teu vulto
onde evola
o perfume
épico
da tua solidão.
Lisboa 23 de Agosto de 2012
Carlos Vieira
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