sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pro-texto



houve uma palavra

que se ergueu

do texto sereno e correcto

perante a incredulidade

das que a rodeavam

não aceitou ficar ali

a fazer sentido

e agora vocifera

no meio do nada

e põe tudo em causa

no texto passa-se palavra

e as outras palavras

comentam a loucura

ou a coragem da palavra

de não ser apenas mais uma

o que é certo

é que o espaço em branco

se tornou um silêncio

ensurdecedor

um pretexto

e deixou de haver

unanimidade

no significado das palavras

e em tudo se colocou

muitas reticências

e interrogações

e agora existe nas entrelinhas

e no contexto

um murmúrio de sublevação

um novo texto

ninguém sabe

o que lhe aconteceu

a palavra desapareceu

de circulação

sem dizer nada.



Lisboa, 6 de Julho de 2012

Carlos Vieira

                                                                   “Screaming” por designart

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