houve uma palavra
que se ergueu
do texto sereno e correcto
perante a incredulidade
das que a rodeavam
não aceitou ficar ali
a fazer sentido
e agora vocifera
no meio do nada
e põe tudo em causa
no texto passa-se palavra
e as outras palavras
comentam a loucura
ou a coragem da palavra
de não ser apenas mais uma
o que é certo
é que o espaço em branco
se tornou um silêncio
ensurdecedor
um pretexto
e deixou de haver
unanimidade
no significado das palavras
e em tudo se colocou
muitas reticências
e interrogações
e agora existe nas entrelinhas
e no contexto
um murmúrio de sublevação
um novo texto
ninguém sabe
o que lhe aconteceu
a palavra desapareceu
de circulação
sem dizer nada.
Lisboa, 6 de Julho de 2012
Carlos Vieira
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