terça-feira, 10 de julho de 2012

Pau de fósforo


pau de fósforo

mínima parcela do pinhal

que acenou seu verde gesto

sobre o horizonte azul-cobalto

onde se festeja a melancolia do sal

de que o vento pouco a pouco se despediu

e escondeu o ninho e sustentou o primeiro voo

sucumbiu na queda da árvore e viu à luz fluorescente

da fábrica erguer-se a lâmina que cerce lhe desenhou seu futuro

e moldou a vermelha substância que um dia se acendeu em flor efémera

depois do desesperado cigarro foi o sopro e a pirueta pelos ares impulsionado

última memória antes da vida espezinhada e agora subitamente uma piedosa mão

lhe deu o destino de travar a janela permitindo à brisa fresca reconhecer naquele corpo

o perfume do pinho verde e a resina que de si brota ténue rastilho que a enlouquece apenas

de espreitar as sombras que se apagam na placidez do parque atormentando a carne do Verão



Lisboa, 9 de Julho de 2012

Carlos Vieira


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