sexta-feira, 13 de julho de 2012

Intercomunicabilidade


abre-se um pôr do sol

nas extensas asas da cegonha

depois fica ali depenicá-lo



no intervalo o murmúrio

das chamadas de longa distância

germinam cegonhas e flores acesas



nos campos de arroz as cegonhas

cruzam-se fios de conversa

e o triplo salto das rãs em fuga



a cegonha dorme seu sono solto

sustendo-se numa pata

sua consciência tranquila na outra



a cegonha humilde e de pé

pelo buraco da branca chaminé

espreita a fome negra



ás 17h30 o matraquear das cegonhas

algures num país desenvolvido

o homem morre na cadeira eléctrica



a cegonha leva no bico comprido

as linhas curvas do rio e um peixe

é um grito entalado na garganta



a cegonha tem o comboio no bico

no poste do telefone em equilíbrio instável

o horizonte é sempre inconsolável



o coração vivia nas trevas

a límpida cegonha e o relógio da igreja

era sua a clarividência da cal



o ninho redondo e amável

um incêndio e no curto circuito de verão

as três cegonhas atónitas



Lisboa 13 de Julho de 2012

Carlos Vieira



Foto in Photoblog600


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