abre-se um pôr do sol
nas extensas asas da cegonha
depois fica ali depenicá-lo
no intervalo o murmúrio
das chamadas de longa distância
germinam cegonhas e flores acesas
nos campos de arroz as cegonhas
cruzam-se fios de conversa
e o triplo salto das rãs em fuga
a cegonha dorme seu sono solto
sustendo-se numa pata
sua consciência tranquila na outra
a cegonha humilde e de pé
pelo buraco da branca chaminé
espreita a fome negra
ás 17h30 o matraquear das cegonhas
algures num país desenvolvido
o homem morre na cadeira eléctrica
a cegonha leva no bico comprido
as linhas curvas do rio e um peixe
é um grito entalado na garganta
a cegonha tem o comboio no bico
no poste do telefone em equilíbrio instável
o horizonte é sempre inconsolável
o coração vivia nas trevas
a límpida cegonha e o relógio da igreja
era sua a clarividência da cal
o ninho redondo e amável
um incêndio e no curto circuito de verão
as três cegonhas atónitas
Lisboa 13 de Julho de 2012
Carlos Vieira
Foto in Photoblog600
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