domingo, 1 de julho de 2012

emboscado na realidade


esta pura armadilha

este logro em que vivo

da suavidade das palavras

em que permaneço

fechado no que te ouvi



percorro o istmo

perpendicular ao sonho

habitado pelos vultos

dos furtivos animais

que te guardam

bêbedos de luz



estás nesta distância

incalculável

de uma manhã de nevoeiro

onde a tua presença

em tudo o que toco

se desfaz e se desdiz



eis-me aqui que só existo

nesta farsa de habitar

a ausência de ti

entranhada do teu silêncio

a cela da realidade

eterna busca

no lapso do tempo

que te esconde



de recriar a doce ilusão

e o mistério da tua casa

e do teu sossego

escrevo na parede as janelas dos dias

como quem pinta uma natureza morta

incorrendo no falso erro de perspectiva

de ludibriar as trevas



surpreendo algures na paisagem

a fosforescência do teu olhar

no selvagem coração da noite

escondo-me do seu fascínio

e estendo a pura armadilha

fulgurante das palavras





Lisboa, 1 de Julho de 2012

Carlos Vieira


                                                  “Pardon” por Macha Volodina-Winterstein

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