sexta-feira, 20 de julho de 2012

pouco conseguido poema para uma despedida



despede-se

a timidez já tarde

o súbito ruído insuspeito

revela-me a sua tez

que perde o pudor

doce é ainda o alarde da nudez

perante o rubor do acorde

que lhe morde a pele

no silêncio dos ombros

e o breve susto

sob a luz quase lúgubre

depois do rodar da chave

derramava-se o mel

na penumbra do aposento

a sua astúcia lasciva

pelo meu território lacustre

e durante muito tempo

ainda pairou teu aroma insalubre

vence-me o contraste da raiva

depois que fomos

uma tristeza esquiva

rendido à vã glória

do que foi ilustre

quando voltamos

ao dilema do mestre

libertar-se da febre do saber

ou do medo da peste de amar

a oeste tudo de novo

até que a morte nos separe

no fulgor do lustro

ficou a terna nódoa

memória da tua presença

do suor da tua casta mão

a incomodidade da lasca

o desassossego do sangue

adivinho o teu corpo aceso

sob a transparência

das tuas vestes de linho

tua chama eterna

depois da cortina

bruxuleante bailarina

ardil de lanterna

ou da minha imaginação

ardendo do combustível

que é agora a solidão

dos nossos corpos nus

e ausentes



Lisboa, 20 de Julho de 2012

Carlos Vieira


                                                     Pintura de Kandisnky “Farewell”

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