despede-se
a timidez já tarde
o súbito ruído insuspeito
revela-me a sua tez
que perde o pudor
doce é ainda o alarde da nudez
perante o rubor do acorde
que lhe morde a pele
no silêncio dos ombros
e o breve susto
sob a luz quase lúgubre
depois do rodar da chave
derramava-se o mel
na penumbra do aposento
a sua astúcia lasciva
pelo meu território lacustre
e durante muito tempo
ainda pairou teu aroma insalubre
vence-me o contraste da raiva
depois que fomos
uma tristeza esquiva
rendido à vã glória
do que foi ilustre
quando voltamos
ao dilema do mestre
libertar-se da febre do saber
ou do medo da peste de amar
a oeste tudo de novo
até que a morte nos separe
no fulgor do lustro
ficou a terna nódoa
memória da tua presença
do suor da tua casta mão
a incomodidade da lasca
o desassossego do sangue
adivinho o teu corpo aceso
sob a transparência
das tuas vestes de linho
tua chama eterna
depois da cortina
bruxuleante bailarina
ardil de lanterna
ou da minha imaginação
ardendo do combustível
que é agora a solidão
dos nossos corpos nus
e ausentes
Lisboa, 20 de Julho de 2012
Carlos Vieira
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