Da névoa se libertou o cavalo
branco, desferiu coices de espanto na romântica paisagem,
cuspiu da garupa o príncipe, a
donzela, a aia, acorreu a soldadesca e toda a criadagem,
ali estava caído por terra o
futuro do Reino, arrastou-se a real família pela fria realidade
da lama.
Não foi um golpe de Estado, foi
apenas um acidente, felizmente sem consequências, mas
naquele dia, no palácio foi o assunto do dia, foi até emanado
um clarividente decreto que
proclamava que nas próximas montarias, não se
iria mais arriscar, em tempo de bruma com o
tão irrascível cavalo branco, não se poderia ser tão temerário com a
rédea que se lhe dava.
Constatou-se no entanto, após aquela
queda, que o príncipe passou a saber o que era tomar
banho, a princesa já deixou de
ressonar e os criados recuperaram a fala, subiu o grau de
prontidão dos militares.
Nos jardins do palácio pode agora
passear o cavalo branco, beber de um trago toda a água do
lago, trás uma rosa atrás da
orelha, olha-se ao espelho, salta os obstáculos da realeza para
realidade e vice-versa, foi
nomeado herói nacional pelo relevante serviço prestado à Nação,
podendo a partir de agora, usufruir o direito vitalício a usar o freio
nos dentes.
Lisboa, 10 de Julho de 2012
Carlos Vieira
“Hedgehog
in the fog” por Yuriy Norshteyn
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