Argumento sólido
é o eterno silêncio
dos lábios
que arrefecem
depois de teres
mordido
a última palavra
que talvez apenas
pronunciaram
só para provocar
a morte
que nunca ninguém
julgou
estar tão perto
e agora
depois que soletraste
o primeiro pó
e que olhas o céu e o mundo
com os olhos vítreos
já parece perguntares
pelas sementes
que te vão incendiar
e pelos abraços
das raízes
no próximo Inverno
onde vais voltar
a anunciar como nunca
o perfume e a cor
com que se povoa
a eterna planície
e se desafia
a mais discreta
lonjura
e se aventurou
a solidão
e eu ando à tua volta
neste afã
já nada sentimental
de perceber
a causa da tua morte
numa lógica
de médico legista
de investigador criminal
como se tivesse
há muito habituado
à tua ausência
como só a minha falta
de independência
a minha inexplicável
adoração
o permitisse
com o gume
da máxima profundidade
e rigor
Lisboa, 1 de Julho de 2014
Carlos Vieira
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