sexta-feira, 11 de julho de 2014

Que falta nos fazem as palavras



Há dias
em que as palavras
nos fogem
por mais que lhe estendas as mãos
e lhe ofertes os lábios
e nos esqueçamos do corpo
elas não se aproximam
ou partem
de nariz no ar
empertigadas
sem dizer palavra
como se esse silêncio
ou essa tolerância
fosse a coragem
sem um adeus
esvaem-se
enrolam-se na língua
diluem-se nos espasmos
grãos de areia
que se evadem entre os dedos
e nós ficamos mudos
de tantos medos
atónitos
despojados dos escudos
da resposta
que apenas aquelas palavras
nos garantem
cegos
de folhas que se apagaram
perante o absurdo
redigido
de não poder nomear
o dia e o objecto
e de tu seres
para lá da timidez
das palavras
que ficaram entaladas
na garganta
o único ser vivo
que ainda me atrevo a soletrar
és o corpo
refúgio das palavras
sobreviventes
apenas
uma rubrica efémera
de luz.

Lisboa, 11 de Julho de 2014
Carlos Vieira


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