A minha mãe
tem quase oitenta anos
os ovos que me deu
estavam quentes
ainda há pouco
os tinha tirado
debaixo da galinha
a minha mãe
é um poema
que sai da capoeira
com um pequeno coelho
que entrega à neta
esta passa
as suas pequenas mãos
as suas pequenas mãos
pelo pêlo macio
enquanto o focinho
laborioso
rói a cenoura
aos meus olhos cintilantes
e da minha filha
tudo isto é magia
os ovos e o pequeno coelho
a ternura da minha mãe
há também quem lhe chame
poesia.
Lisboa, 14 de Julho de 2014
Carlos Vieira
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