segunda-feira, 13 de maio de 2013

Vidas estreitas III


 

O quarto e a cama  

lençóis de linho

e silêncio de cal

fotogramas

estilhaços do céu

toda a via láctea

onde contava sonhos

e nódulos

da madeira de pinho

que faziam ora de estrelas

ora de lobos

no coração desta galáxia

onde um repentino

estertor da porta pintada

a tinta de água

fazia de represa

de toda a angústia

na iminência

da declaração de guerra

aberta

pela censura das tuas mãos

sempre delicadas

onde germinavam frágeis

as flores

de tantos pensamentos

numa pétala

num fugaz aroma

vencia-se a distância

e podia ganhar-se a paz

ou crepitar

o fogo no  inverno

quando alastrando no peito

tinhas a medida

do mundo todo

que cabia numa só palavra

trânsfuga dos teus lábios

onde adormecia

e por vezes era a gota

rumor de um sonho

que extravasava.

 

Lisboa, 13 de Maio de 2013

Carlos Vieira

 


                                                  Le rêve du petit Michel – Robert Doisneau

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