quinta-feira, 9 de maio de 2013

Estreito de Ormuz


I
Estreito
de qualquer viagem
cujo rumo
num momento
nos confronta
com o homem imperfeito
esses deuses com defeito
nas tréguas
lambendo as feridas
feitas a colher  pérolas
da ilusão
do livre pensamento
contra recifes
os remoinhos e as ideias
e todas as correntes
ávidos de especiarias
ainda assim
destilado da humana espuma
dos dias
ergue-se o manuscrito
de uma desconhecida  
coragem
um último testamento
numa folha de papel cavalinho
por cima das vagas
onde se escreve a pulso
se ouvem os gritos
de tanto condenado
às tormentas da vida
enquanto ao longe
na miragem
das colinas contíguas
a brisa traz-nos
o canto dos pastores
e aromas
de uma antiga Pérsia

Lisboa, 9 de Maio de 2013
Carlos Vieira

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