sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

poesia biológica


 


vou regressar à pura infância

a esse mágico tamborilar da chuva

uma voz na superfície nocturna dos lagos e do mundo

 

poderei voltar a ser a alegria íngreme dos ninhos

e de escorregar

na nudez dos troncos

 

arrancar cenouras

essa ternura de dedos enterrados na terra fértil

que saboreio na doçura de um olhar

 

um êxtase de musgo e ouro e prata no rendilhado

das árvores

metástases contidas no céu azul cobalto

 

sou apenas um único fruto no pomar

depois serei um peregrino num caminho

de terra batida

 

vejo as couves

como grandes mãos verdes

e por elas posso beber a mais pura água fresca

 

pendurados nos ramos

vejo os pássaros transidos de asas molhadas

uns do frio e outros do desespero

 

Lisboa, 22 de Fevereiro de 2013

Carlos Vieira

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