sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Perdido vou pela tua mão


 

A tua mão

é o pássaro

que pousou suave

e bebe nos interstícios da pele

a cumplicidade

de todos os dias reclamada

depois desfaz-se na solicitude

da manhã que perpassa pelo estore

e acende na seda da cortina

um etéreo teatro de sombras

um bailado de irreconciliáveis

contradições.

 

A tua mão

que me desarmou

e ergue a taça da tua voz

rosa de um jardim secreto

que descobriu para mim o timbre

cuja exótica tonalidade

fere no dia o seu princípio

como se o tempo te despisse

de formalidades

fazendo-me acreditar

na tua imortalidade.

 

A tua mão

que permaneça

mais um pouco

nesta renovada reinvenção

da nossa contiguidade

prolonga a tua enorme presença

o café pode esperar

ergue os teus seios temerosos

e segreda-me agora

todos os sabores.

 

A tua mão

que releva o erro

acalma os acidentes das paisagens

onde nunca é tarde

para regressar pelos teus dedos

ao desfiladeiro

aos labirintos dos nossos corpos

dissidentes do vento

mergulhando em todos os abismos

sussurrando

contra o ensurdecedor silêncio

da carne.

 

A tua mão

que erra

pelo caos dos lençóis

de retorno ao princípio do mundo

ao primeiro dia em que te conheci

de onde rumámos nus

até à entrega absoluta

ao intrépido abandono

numa inequívoca falta de razão

sequiosos apenas do conhecimento

que nos consumia

que torrencial brotava

sendo fonte e fogo ancestral.

 

 

Lisboa, 14 de Fevereiro de 2013

Carlos Vieira

                                                                   Lovers hand by Katie091

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