A tua mão
é o pássaro
que pousou suave
e bebe nos interstícios da pele
a cumplicidade
de todos os dias reclamada
depois desfaz-se na solicitude
da manhã que perpassa pelo estore
e acende na seda da cortina
um etéreo teatro de sombras
um bailado de irreconciliáveis
contradições.
A tua mão
que me desarmou
e ergue a taça da tua voz
rosa de um jardim secreto
que descobriu para mim o timbre
cuja exótica tonalidade
fere no dia o seu princípio
como se o tempo te despisse
de formalidades
fazendo-me acreditar
na tua imortalidade.
A tua mão
que permaneça
mais um pouco
nesta renovada reinvenção
da nossa contiguidade
prolonga a tua enorme presença
o café pode esperar
ergue os teus seios temerosos
e segreda-me agora
todos os sabores.
A tua mão
que releva o erro
acalma os acidentes das paisagens
onde nunca é tarde
para regressar pelos teus dedos
ao desfiladeiro
aos labirintos dos nossos corpos
dissidentes do vento
mergulhando em todos os abismos
sussurrando
contra o ensurdecedor silêncio
da carne.
A tua mão
que erra
pelo caos dos lençóis
de retorno ao princípio do mundo
ao primeiro dia em que te conheci
de onde rumámos nus
até à entrega absoluta
ao intrépido abandono
numa inequívoca falta de razão
sequiosos apenas do conhecimento
que nos consumia
que torrencial brotava
sendo fonte e fogo ancestral.
Lisboa, 14 de Fevereiro de 2013
Carlos Vieira
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