Chove na cidade
interruptamente.
Tu passaste
pelos intervalos da chuva
até aos ossos
encharcada de solidão.
Oiço-a que cai
inclemente
na tua face molhada.
Respira-se
uma secreta tempestade
que nasce dentro de ti.
Cidade alagada
vento e bátegas de água
no teu cabelo revolto
algas e caracóis.
Debaixo do chapéu de chuva
de um pensamento
a ironia
do teu rosto submerso
de onde parte o rio
que galga as margens.
Os peixes atónitos
entram pelas janelas
de surpresa
e confraternizam
com os animais domésticos.
A água devora os caminhos
os lugares da luz
onde segurava as tuas mãos.
Os barcos descem pelos telhados
prenhes de nossas inúteis aventuras
que o fumo das chaminés
vão contar
A memória mais húmida
dos teus beijos
chove na cidade.
Lisboa, 20 de Fevereiro de 2013
Carlos Vieira
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