ela é professora de ciências exactas
na sala de aula o silêncio era eterno
pulverizava a matéria
e o conhecimento deu-lhe asas
o instinto afastou-a das casas
ficou deslumbrada naquela iluminação
de rapariga dada a fantasias e prazeres efémeros
ia com as aves e as borboletas
serpenteando nas suas asas
erguia-se o rumor e desassossego nas suas pernas
nos seus sapatos de tacão alto
pousava a sua insustentável leveza
e no rosto uma estudada indiferença e incerteza
nessa luz diáfana do crepúsculo
ficava a pairar o seu perfume
uma inquieta e insensata sofreguidão de flores
o fulgor do seu olhar lascivo
eram brasas acesas na noite escura
nas mãos ardiam as cinzas de uma antiga solidão
no cego bater de asas do livro que lia
escutava a sombra mínima que perdura
a ausência do corpo que treme de prodigiosa equação.
Lisboa, 14 de Setembro de 2012
Carlos
Vieira
“Manet
Painting Woman as a Chemistry Teacher”
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