sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sonhos da minha professora das ciências exactas


 

 

ela é professora de ciências exactas

na sala de aula o silêncio era eterno

pulverizava a  matéria e o conhecimento deu-lhe asas

 

o instinto afastou-a das casas

ficou deslumbrada naquela iluminação

de rapariga dada a fantasias e prazeres efémeros  

 

ia com as aves e as borboletas

serpenteando nas suas asas

erguia-se o rumor e desassossego nas suas pernas

 

nos seus sapatos de tacão alto

pousava a sua insustentável leveza

e no rosto uma estudada indiferença e incerteza

 

nessa luz diáfana do crepúsculo 

ficava a pairar o seu perfume

uma inquieta e insensata sofreguidão de flores

 

o fulgor do seu olhar lascivo

eram brasas acesas na noite escura

nas mãos ardiam as cinzas de uma antiga solidão

 

 

no cego bater de asas do livro que lia

escutava a sombra mínima que perdura

a ausência do corpo que treme de prodigiosa equação.

 

Lisboa, 14 de Setembro de 2012

Carlos Vieira

 
                                              “Manet Painting Woman as a Chemistry Teacher”

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